É sobejamente conhecida propensão da esquerda
para os desentendimentos. Tem sido assim ao longo dos tempos. Em bom
rigor, também é natural que em democracia, num contexto onde impera a
pluralidade de opinião, as diferenças sejam preponderantes.
Contudo,
há um factor que tem contribuido para a divisão das esquerdas e esse
factor prende-se com a propensão que os partidos ditos socialistas e
outros partidos de esquerda têm para se render aos interesses que unem
os partidos de direita. Em Portugal passa-se o mesmo. E os partidos que permanecem fiéis aos ideiais de esquerda desentendem-se.
Veja-se
o caso do Bloco de Esquerda: os últimos resultados eleitorais foram um
desastre e as cisões internas continuam a fazer o seu caminho, existindo
quem deseje uma união à esquerda e quem rejeite em absoluto essa
possibilidade. Ana Drago foi a mais recente baixa no Bloco de Esquerda. E
partidos como o Livre arriscam-se a conquistar eleitores que outrora
votavam no Bloco de Esquerda.
A candidatura de António
Costa no PS veio baralhar ainda mais as contas. Na verdade, Costa já
referiu que o PS não apita à direita ou à esquerda, embora também tenha
sublinhado a importância do PS não descartar as possibilidades que estão
no horizonte, incluindo movimentos de cidadãos - à semelhança do que se
passa em Lisboa.
O certo é que as divisões da esquerda só
resultam numa vitória da direita. A confusão, a ausência de ideias e de
alternativas, a incapacidade de se ultrapassar pequenos e grandes egos
aborrece os eleitores e enfraquece os partidos de esquerda. A excepção
é, inquestionavelmente, o PCP.
Enquanto a esquerda não se
entender, em Portugal, como no resto da Europa, os partidos de direita
encontram caminho aberto para procederem a profundas transformações nas
sociedades europeias. Esse é outro facto incontornável.
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