Não sendo um sistema perfeito, aliás, estando longe de ser um sistema perfeito, o sistema capitalista tem vindo a tornar-se inimigo do bem-estar social da maioria, beneficiando apenas alguns privilegiados. A economia está, porquanto, cada vez menos ao serviço dos cidadãos para ser uma espécie de oráculo que nos tenta, entre profecias, que nos tenta explicar o inexplicável, que tenta levar os cidadãos a aceitar o inaceitável. Note-se que o anátema da inevitabilidade das consequências do capitalismo no actual contexto de globalização cai sobre as nossas cabeças. É a economia, estúpido! Dizem-nos.
O desequilíbrio entre a voracidade do sistema e o bem-estar dos cidadãos é cada vez mais notório. E nem a crise internacional, consequência da selvajaria em que o sistema se tornou, abriu as portas às tão necessárias mudanças.
Deste modo, a esquerda frustrada e ressabiada, diz-nos que o sistema faliu e não serve o interesse da maioria dos cidadãos. De facto, a esperança num regresso àquele passado que poucas ou nenhumas saudades deixou nunca abandonou a dita esquerda. As soluções propostas por esta esquerda configuram um regresso ao passado e estão demasiado próximas de outras soluções falhadas desse mesmo passado.
A direita, por sua vez, alimenta-se e alimenta o sistema tal como ele está. Há mesmo que não se coíba de propor mudanças que tornariam o sistema ainda mais potenciador de iniquidades. Esta direita, que está bem representação nos EUA através do partido Republicano, também tem os seus seguidores na Europa. Repito: esta direita alimenta e alimenta-se do sistema, comportando-se como um animal selvagem que tudo faz para garantir a sua sobrevivência e a dos seus. De resto, esta direita também alimenta os seus “filhos” através do sistema, provando que a bajulação, a mediocridade moral, a ausência de princípios éticos, o egoísmo e a indiferença são premiados. Vale tudo para se conseguir obter uma maior rentabilidade.
Olhe-se friamente para o capitalismo e percebe-se que o objectivo do mesmo é o aumento exponencial do lucro, fazer dinheiro, crescer. Não há dúvidas quanto a isto. O equilíbrio que existiu até aos anos 70/80 só foi possível graças às lideranças políticas. Assim, importa dizer que o mundo que estamos a construir, cada vez mais egoísta e desigual, só é possível graças à inércia dos cidadãos e à complacência das lideranças políticas, sendo que muitas delas já nem escondem as relações obscenas que mantêm com aquilo que se convencionou chamar “poder económico”. Os cidadãos, esses, aceitam, convencidos da inevitabilidade e irreversibilidade do processo. Nem a ilusão de uma vida perfeita que, de um momento para o outro soçobra sem apelo nem agravo, convence as massas.
Durante as próximas duas semanas discute-se em Copenhaga formas de salvar o planeta e nunca tantos estiveram envolvidos num objectivo comum. Espera-se que os resultados da Cimeira sejam promissores. Assim como se espera que esteja próximo o dia em que o mundo se consciencialize que o modelo em que assenta o nosso desenvolvimento deixou de servir os interesses dos cidadãos e que as lideranças políticas percebam que há muito tempo que deixou de ser aceitável a sua complacência e conivência com a desigualdade, egoísmo e imoralidade.
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