O episódio, amplamente difundido na comunicação social, do comportamento deplorável de uma aluna em busca do seu telemóvel e da resultante catadupa de empurrões, puxões e malcriadices visando a professora – para gáudio dos colegas – dispensa comentários. Mas serve de ponto de partida para uma discussão mais séria sobre a violência nas escolas. E mostra claramente que a ministra da Educação deveria ter outras preocupações que fossem além da avaliação dos professores – a mítica frase “há mais vida para além do défice” pode ser justamente adaptada para “há mais vida nas escolas para além do modelo de avaliação dos professores”.
De resto, o comportamento desta equipa ministerial não está totalmente dissociado do desrespeito dos alunos em relação aos seus professores e do clima anárquico que se tem vindo a gerar nas escolas. Em abono da verdade, não é correcto responsabilizar apenas este Governo pelo desgoverno que se verifica nas escolas do país, mas a postura da ministra tem sido marcada pela constante antagonização dos professores e, em larga medida, pela criação de uma imagem injusta e desfasada da realidade de uma classe profissional que é classificada – com mais ou menos subterfúgios – como sendo responsável pelos males da educação, e como sendo indolente e privilegiada. Ora, a título de exemplo, recorde-se a divulgação de dados que indiciavam uma elevada taxa de absentismo dos professores em véspera de uma greve – dados esses que careciam de uma análise mais cuidada, foram convenientemente veiculados à comunicação social.
Mas a sociedade, num sentido genérico, não tem feito muito melhor. Quem se atreva a perscrutar o que se escreve por aí, depara-se inevitavelmente com críticas desmesuradas e, amiúde, infundadas sobre a alegada “boa vida” dos professores. É curioso verificar que muitos destes fazedores de opinião que têm os seus filhos na escola pública, esquecem-se de ver os seus próprios insucessos, que estão invariavelmente associados à violência nas escolas – sobre professores e alunos.
Quando surgem imagens como aquela que foi difundida pelos meios de comunicação social, irrompem inúmeras explicações, plausíveis, sobre o que estará na origem de comportamentos violentos nas escolas: as desigualdades sociais, o desemprego, a demissão dos pais da sua tarefa de educar, o rebuliço do dia-a-dia e consequente falta de tempo, a total inversão de valores que marca os tempos em que vivemos, e por aí fora. Todavia, o contributo que os responsáveis governativos têm dado para o agravamento deste problema não pode ser arredado da discussão. Nem se pode obliterar esta verdade essencial: a violência nas escolas é responsabilidade de quem insiste em ver a educação como o palco de confronto entre ministério e professores, ou entre “nós, povo trabalhador e injustiçado” e “eles, classe profissional irresponsável, indolente e beneficiada”. São ideias redutoras como estas que retiram legitimidade e autoridade a quem tem de lidar diariamente com alunos como aqueles que protagonizaram o triste episódio do 9º C da Escola Carolina Michaelis.
Declaração de interesses: a autora deste texto não é professora nem nunca esteve ligada ao ensino.
De resto, o comportamento desta equipa ministerial não está totalmente dissociado do desrespeito dos alunos em relação aos seus professores e do clima anárquico que se tem vindo a gerar nas escolas. Em abono da verdade, não é correcto responsabilizar apenas este Governo pelo desgoverno que se verifica nas escolas do país, mas a postura da ministra tem sido marcada pela constante antagonização dos professores e, em larga medida, pela criação de uma imagem injusta e desfasada da realidade de uma classe profissional que é classificada – com mais ou menos subterfúgios – como sendo responsável pelos males da educação, e como sendo indolente e privilegiada. Ora, a título de exemplo, recorde-se a divulgação de dados que indiciavam uma elevada taxa de absentismo dos professores em véspera de uma greve – dados esses que careciam de uma análise mais cuidada, foram convenientemente veiculados à comunicação social.
Mas a sociedade, num sentido genérico, não tem feito muito melhor. Quem se atreva a perscrutar o que se escreve por aí, depara-se inevitavelmente com críticas desmesuradas e, amiúde, infundadas sobre a alegada “boa vida” dos professores. É curioso verificar que muitos destes fazedores de opinião que têm os seus filhos na escola pública, esquecem-se de ver os seus próprios insucessos, que estão invariavelmente associados à violência nas escolas – sobre professores e alunos.
Quando surgem imagens como aquela que foi difundida pelos meios de comunicação social, irrompem inúmeras explicações, plausíveis, sobre o que estará na origem de comportamentos violentos nas escolas: as desigualdades sociais, o desemprego, a demissão dos pais da sua tarefa de educar, o rebuliço do dia-a-dia e consequente falta de tempo, a total inversão de valores que marca os tempos em que vivemos, e por aí fora. Todavia, o contributo que os responsáveis governativos têm dado para o agravamento deste problema não pode ser arredado da discussão. Nem se pode obliterar esta verdade essencial: a violência nas escolas é responsabilidade de quem insiste em ver a educação como o palco de confronto entre ministério e professores, ou entre “nós, povo trabalhador e injustiçado” e “eles, classe profissional irresponsável, indolente e beneficiada”. São ideias redutoras como estas que retiram legitimidade e autoridade a quem tem de lidar diariamente com alunos como aqueles que protagonizaram o triste episódio do 9º C da Escola Carolina Michaelis.
Declaração de interesses: a autora deste texto não é professora nem nunca esteve ligada ao ensino.
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