O caso noticiado pelo jornal Público de uma jovem xiita saudita que, não obstante ter sido violada 14 vezes, foi condenada a 200 chicotadas por ter sido vista na companhia de um homem com qual não tem relações familiares – isto tudo depois de ter recorrido da sentença e por esse mesmo facto ter visto a mesma ser agravada. Esta situação não será inédita, todos já ouvimos falar de lapidações, de condenações à morte, pelas razões mais triviais, nos países islâmicos que adoptaram a Sharia como matriz do seu sistema judicial.
É precisamente a Sharia, ou seja a lei islâmica, que convida a interpretações radicais que esbarram na defesa dos direitos humanos. O caso da jovem xiita é mais um exemplo da forma abjecta como as mulheres são tratadas em países que, em virtude de interpretações extremistas dos textos religiosos, regressaram à idade das trevas.
De facto, não teriam sido apenas os talibãs a recorrerem às formas mais vis de maltratarem as mulheres do país, e embora os talibãs tenham extravasado os limites do terror; não é menos verdade que existem outros países, entre os quais se inclui a Arábia Saudita (de maioria sunita) e o Irão (de maioria xiita), que insistem em tratar as mulheres abaixo de cão.
Dir-se-á que as sevícias não são infligidas apenas às mulheres. Mas o que subjaz ao tratamento das mulheres acusadas de “crimes” e julgadas sob a Sharia é a própria condição feminina nesses países. Com efeito, as mulheres são consideradas como sendo um ser inferior ao homem – os textos sagrados não o negam, pelo contrário – e, não raras vezes, essa inferioridade é empolada por interpretações de quem não consegue esconder a sua misoginia.
Lamenta-se mais esta situação, e apesar de algumas promessas de abertura do rei Abdullah da Arábia Saudita, não se vislumbram sinais consistentes dessa mudança ou abertura no que diz respeito à condição das mulheres. A Arábia Saudita continua a impedir que as mulheres possam ter carta de condução, por exemplo, e ostraciza grande parte da população feminina, dificultando a vida a mulheres que pretendam ingressar no mercado de trabalho. Embora haja hoje uma ligeira abertura no que concerne às mulheres no acesso ao mundo do trabalho, uma vasta maioria das mulheres vê a sua condição de inferioridade ser acentuada no mundo laboral. Factores desta natureza condicionam o próprio desenvolvimento de um país que despreza metade da sua população. Diga-se em abono da verdade que se não fossem as ricas jazidas de petróleo, a Arábia Saudita conheceria uma realidade bem diferente, e quem sabe, se nessas circunstâncias, não seria obrigada a rever a forma ignóbil como trata as mulheres desse país.
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