O primeiro-ministro veio esta semana enaltecer a sua política de criação de emprego e o facto desta ter tido como resultado a criação de mais de 100 mil postos de trabalho. O que é verdade é que a comunicação social questionou esses números e procedeu a uma investigação que concluiu o seguinte: a maior parte desses postos de trabalho são trabalho precário e mais: correspondem a postos de trabalho pouco qualificados.
O problema do desemprego não tem uma solução milagrosa, nem tão-pouco se estará à espera que seja o Governo a criar esses tão almejados postos de trabalho. No essencial, espera-se que o Governo crie condições para mais emprego e que fomente políticas no sentido de facilitar o investimento. Ora, o ónus da questão prende-se precisamente com a escassez de investimento – sem investimento não há lugar à criação de emprego. A equação é simples. Contudo, o facto de existir um número tão elevado de postos de trabalho pouco qualificados remete-nos para um problema estrutural que cerceia o desenvolvimento do país – o pouco investimento que é feito em Portugal não será da natureza que se necessitaria.
Com efeito, a política de emprego do Governo não pode ser motivo de regozijo nas circunstâncias acima descritas. Sendo certo que Portugal tem claros óbices que são diametralmente opostos à criação de emprego: desde a baixa produtividade e fraca qualificação dos recursos humanos, passando pela rigidez da lei laboral, culminando numa carga fiscal pouco atractiva e não esquecendo a burocracia e morosidade da justiça; não é menos verdade que são precisamente os mais qualificados que encontram dificuldades em matéria de emprego. Esta contradição é inquietante e leva-nos a concluir que o país tem dificuldades em atrair investimento de maior qualidade.
É por demais evidente que o desemprego que assola uma população mais qualificada tem consequências até na própria mensagem que outrora fazia algum sentido para as pessoas – a de que os “estudos” eram condição sine qua non para o sucesso laboral. Em todo o caso, o Governo necessita urgentemente de inverter esta situação – num contexto internacional de acérrima competitividade e concorrência, Portugal corre o risco de empobrecer a olhos vistos. O que o país precisa é de criar condições para atrair investimento que assente no emprego qualificado para podermos chegar a alguma vantagem competitiva e fazer jus à premissa segundo a qual a aposta na formação é uma aposta ganha.
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