Jair Messias Bolsonaro, bem colocado
para vencer as eleições brasileiras, contou com um aliado de peso:
as notícias falsas veiculadas pelas redes sociais, onde a
vitimização e as teorias da conspiração fazem escola.
Mais:
segundo uma investigação do jornal Folha de São Paulo, várias
empresas privadas, naturalmente apoiantes de Bolsonaro, pagaram a
empresas de marketing para despejarem centenas de milhões de
mensagens com propaganda anti-PT. O Whatsapp terá sido o veículo
escolhido. Recorde-se que as empresas privadas não podem, à luz da
lei brasileira, financiar candidatos políticos.
Outro
dado importante diz-nos que são os apoiantes de Bolsonaro são os
que mais se informam via Whatsapp e 91 por cento dos brasileiros, em
2016 – ano do impeachment de Dilma – declarava informar-se pela
internet, com 72 por cento a escolherem o Whatsapp ou o Facebook. E
ainda recentemente um conjunto de investigadores brasileiros
juntamente com uma agência de verificação de factos, chegou à
conclusão de que em 347 grupos no Whatsapp apenas 8 por cento das
imagens (com muita informação a passar através de fotografias e
vídeos) podem ser consideradas verdadeiras. (notícia Sol).
Fernando
Haddad já fez o pedido de impugnação da candidatura de Jair
Messias Bolsonaro.
Em
rigor, o enfraquecimento da comunicação social não pode ser
dissociado do aumento exponencial de notícias falsas. Um meio de
comunicação social até podia ter uma inclinação política, mais
ou menos evidente, mais ou menos declarada, mas não veiculava
notícias falsas, nem procurava polarizar o debate político ao ponto
do ódio ser de morte. Em rigor, essa comunicação social que hoje
está claramente enfraquecida mostrava-se determinante para as
próprias democracias.
Neste
contexto, assistimos, hoje mais do que nunca, até mais do que nas
eleições americanas, a uma mudança de paradigma: são as redes
sociais, conspurcadas pelas notícias falsas e dominadas por empresas
de “marketing”, a determinar o resultado de eleições. E tanto
mais é assim que Bolsonaro, a prova de que a idiotia pode mesmo ser
premiada, nem se deu ao trabalho de participar em debates políticos
que seriam perfeitamente reveladores de toda essa idiotia e
boçalidade.
Paralelamente,
a tecnologia, designadamente os seus rápidos avanços, foram
determinantes para criar uma ilusão: com mais informação ao
dispor dos cidadãos, as escolhas seriam mais fundamentadas e mais
assertivas. Com mais tecnologia voltaríamos a viver uma época de
luzes e não de trevas. Com mais tecnologia maior seria a
consciência. Nada mais errado.
O
enfraquecimento da comunicação social (amiúde por culpa própria)
abriu espaço para as ditas redes sociais que, como Umberto Eco
dizia, promoveram o “idiota da aldeia” do tempo da televisão ao
“portador da verdade” no tempo da internet.
O
resultado está à vista: eleições decididas em verdadeiras
latrinas de desinformação, onde grassam discursos simplistas que
exultam as massas apelando a um ódio que se alimenta precisamente da
ignorância, da frustração, da confusão instalada naqueles que já
não compreendem o mundo onde vivem, da ausência da esperança de
tantos que se tornaram vítimas do capitalismo selvagem, dos níveis
cada vez mais baixos de auto-estima tantas vezes disfarçada pelo
recurso a uma multiplicidade de fármacos.
Assim,
quando toda essa gente encontra alguém que mostre ser diferente,
alimenta a esperança de que esse alguém lance finalmente luz sobre
a confusão deste mundo, caindo rapidamente na ilusão de que terão
encontrado o Messias.
Comentários