Já
em campanha eleitoral Donald Trump aproveitou o medo e a ignorância
de muitos americanos para fazer o seu caminho. O medo era conhecido:
medo do outro, medo que o outro venha a ser a maioria,
transformando-os, forçosamente, na minoria. A tudo isto soma-se a
ignorância, o falhanço da educação e a dificuldade em atribuir a
miséria e o desemprego a um sistema económico complexo
e empenhado
no logro e no engano, facilitando-se deste modo a atribuição de
culpas ao outro: ao imigrante, ao hispânico, ao judeu, ao negro.
Trump,
na qualidade de Presidente, não mudou. Primeiro demorou dias
até
finalmente criticar, sem particular convicção, grupos neo-nazis e
supremacistas brancos pelos crimes cometidos na cidade de
Charlottesville. Depois optou por desvalorizar o que aconteceu
atribuindo culpas a ambos os lados: aos nazis e fascistas, mas também
aos anti-fascistas. Segundo o Presidente americanos, as vítimas
também têm culpa.
É
evidente que Trump não o podia ter feito sem ter recorrido ao
auto-elogio, salientando ser ele o único a possuir a coragem de
dizer a verdade. Até na estupidez mais atroz, Trump encontra espaço
para se
vangloriar.
Recorde-se
que em Charlottesville num protesto de extrema-direita e já durante
um contra-protesto de anti-fascistas, uma mulher foi mortal e
deliberadamente atropelada por um neo-nazi confesso. Por
ali se viu e ouviu o quanto é possível o ser humano odiar com base
na premissa da inferioridade racial, sexual, etc; por ali se ouviu
“heil Hitler” e “heil Trump”.
Trump
prefere alimentar este fogo
que já arde há demasiado tempo. Trump aposta na divisão, no
relativismo histórico, comparando o primeiro Presidente americano
com o líder da Confederação Robert. E. Lee e recebe os
agradecimentos de David Duke, um dos mais conhecidos supremacistas
brancos.
Nada
disto é por acaso. Na verdade, Donald Trump não está interessado
em afastar os seus apoiantes e inclusivamente a sua base de apoio.
De
um modo geral, Trump fomenta as divisões, alimenta o ódio, dá
segurança a quem se considera superior (raça), não lidera o que
quer que seja e das duas uma: ou vê impávido e sereno o fogo medrar
ou atira gasolina para cima do mesmo. Um desastre para os EUA.
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