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PSD e o fim de uma liderança

É arriscado afirmar o fim de uma liderança política e, como todo o exercício de futurologia, este pode muito bem cair em saco roto. Mas os sinais de tibieza da ainda liderança do PSD são mais do que evidentes. E mais: os sinais de desespero de Passos Coelho e dos seus acólitos revelam-se a cada dia que passa.
Tudo começou com o inesperado entendimento das esquerdas e a incapacidade da direita congeminar alianças com o PS. Em rigor, Passos Coelho nunca recuperou verdadeiramente do facto de ter vencido as eleições, mas, por culpa própria, não ter sido capaz de formar maioria.
Depois esperou-se ansiosamente pela chegada do Diabo, tomasse ele a forma das instituições europeias, ou de um hipotético desaire da economia portuguesa ou ainda de um desentendimento entre as esquerdas. O Diabo não chegou e o Presidente da República agiu mais vezes como anjo da guarda do Governo do que eventualmente se esperaria - tudo em nome da estabilidade, claro está.
Mais recentemente, Passos Coelho viu nova oportunidade de provocar instabilidade no Governo, designadamente com a história bacoca das sms trocadas entre o ministro das Finanças e aquele que seria o Presidente da Caixa Geral de Depósitos. Com esta jogada, Passos Coelho e o seu séquito matariam dois coelhos com uma só cajadada: provocariam a tão desejada instabilidade no Governo e ainda utilizariam a tal história bacoca para escamotear os bons resultados da economia portuguesa, alvo de alguns elogios da comissão europeia e da comunicação social fora de portas.
Mas o tiro voltou a sair pela culatra. Para além de um Presidente zangado, pouco mais resultou desta história e nem a preciosa e recorrente ajuda da comunicação social permitiu tirar frutos de uma polémica que pouco ou nenhum interesse provocou na maioria dos portugueses. Em contrapartida, soube-se agora que durante o seu mandato, Passos Coelho viu 10 mil milhões de euros fugir de Portugal sem quaisquer satisfações - um assunto que, muito provavelmente, causará desagrado naqueles que, durante esse mesmo período, viram os seus rendimentos serem cortados, enquanto assistiam ao enfraquecimento do Estado Social e à fuga de muitos jovens para o estrangeiro, tudo em nome de uma culpa do país que havia, segundo o então primeiro-ministro, vivido acima das suas possibilidades. Tudo com a preciosa ajuda do secretário de Estado Paulo Núncio, via CDS.
Resta ao líder do maior partido da oposição esperar por um milagre nas autárquicas. Se esse milagre não chegar, resta-lhe a porta de saída.


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