A escassas semanas depois da tomada de
posse de Donald Trump e depois de se confirmar o pior da nova
Administração americana, aguarda-se a resposta da Europa que, a
julgar pelos primeiros sinais, parece ter a intenção de não
esperar mais para ver.
Na sequência do Brexit e da eleição
de Donald Trump, para além das hipotéticas vitórias de Marine Le
Pen, em França, e outras possíveis viragens do género, muito olham
para Angela Merkel como sendo a salvadora da democracia liberal.
Ora, se a resposta da Europa está
dependente desta “salvadora da democracia”, estamos em maus
lençóis. Desde logo, o messianismo, em política, não traz bons
resultados; depois, a Europa precisa de união, de políticas comuns,
de coesão social, e de uma força que não tem existido na união.
Ora, é precisamente na questão da união que o contributo de Merkel
e do seu inefável ministro das Finanças deram o pior dos
resultados. Depois de anos a humilhar e a subjugar membros da UE (o
caso da Grécia toca o abjecto), como se esperar que os responsáveis
por essa humilhação, que tanto contribuiu para a desunião, possa
reforçar os laços europeus?
Paralelamente, falta aferir o peso da
hegemonia alemã na própria decisão dos ingleses de saírem da UE.
Ou será que esta união dominada pela Alemanha que se dedicou a
encetar exercícios de humilhação a parceiros da UE, resultando
também num agravamento da crise, não terá contribuído para a
escolha dos ingleses? Em bom rigor, quem é que, podendo sair, quer
permanecer num grupo onde uns humilham outros e onde as perspectivas
de futuro – para muitos – são sombrias?
Escusado será dizer que agora face a
mudanças sem precedentes quer no seio Europeu, quer no plano
mundial, torna-se premente deixar cair os exercícios de humilhação
e a austeridade contraproducente. Mas não chega. Angela Merkel,
responsável pelas humilhações e pelas receitas de austeridade até
à morte – que tanto contribuíram para a fragilidade da União -,
já não deve ter lugar na UE, muito menos com quaisquer ambições
hegemónicas.
Contrariamente ao que por aí se diz,
Merkel não é a salvadora da democracia liberal, pelo contrário
contribuiu para a sua acentuada fragilidade, não pela via populista,
mas pela via económica, cujo resultado, para além das tentativas de
recuperação da hegemonia felizmente há muito perdida, redundou no
agravamento da crise na Europa, ao mesmo tempo em que nações foram
humilhadas.
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