A
política transformou-se em espectáculo, mesmo em Portugal, e há
quem afirme que dessa forma aproxima-se cidadãos de uma classe
política que, de um modo geral, está descredibilizada. A política,
segundo essa opinião, é menos enfadonha, menos hermética e mais
próxima do cidadão. Seria tudo muito bonito se essa forma de fazer
política fosse revestida de algum conteúdo, o que invariavelmente
não acontece.
Vem
isto a propósito de Marcelo Rebelo de Sousa, um produto da
televisão. O seu sucesso é consequência do mundo do espectáculo e
Marcelo sabe como agradar às massas: mantém a simpatia,
acentuando-a se possível; procura aproximar-se de todos, sem
excepções; aspira ser a antítese daquilo que foi Cavaco Silva, o
Presidente menos popular em democracia. Tudo acompanhado pela
política-espectáculo, a mesma que vive da forma, abdicando da
substância.
A
receita seguida por Marcelo não é nova, mas no caso português
necessita de mais um ingrediente: Marcelo, envolto no espectáculo,
precisa também de ser pai. Isso mesmo, pai. E Marcelo parece optar
por ser um pai extremoso, contrariamente a outros que também foram
pais do povo português. E esta característica é a mais
inquietante. De resto, a política-espectáculo acaba por ser
transversal a boa parte das democracias ocidentais e em alguns casos
a política é quase só espectáculo - veja-se as campanhas
presidenciais americanas; mas a procura de uma paternidade é
reveladora da existência de um povo que se sente órfão, um povo
perdido que dificilmente aguentará mais uma desilusão. Será essa
também a responsabilidade de Marcelo, talvez a maior - não
desiludir os seus filhos. Uma desilusão que acabará inevitavelmente
por chegar.
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