Ia
jurar que vivíamos num sistema semi-presidencialista, com forte
preponderância da Assembleia da República. Vivi anos convencida que
era da Assembleia da República que saíam os governos. Pensava
também que ao Presidente da República não cabia a tarefa de
examinar programas políticos ou acordos entre partidos e, na minha
ingenuidade, acreditava que esses programas ou acordos não passavam
pelo crivo do Presidente da República. Estava enganada. O regime, na
óptica de Cavaco Silva, é Presidencialista, a Assembleia da
República tem muito menos importância que se imaginava e os
programas políticos e acordos têm mesmo de passar pelo crivo do
Presidente da República que escolhe o que mais lhe apraz.
Não
espanta pois que Cavaco Silva ainda não tenha indigitado António
Costa, preferindo passar-lhe trabalhos de casa, com o objectivo claro
de minar os acordos firmados entre PS/BE/PCP e PEV. Cabe ao PS e aos
restantes darem garantias ao Presidente da República; a existência
de acordos entre os vários partidos e o próprio programa do PS que,
num contexto de maturidade democrática já seria Governo, não são
suficientes.
O
desfecho deste imbróglio criado desnecessariamente pelo pior
Presidente da República da democracia pode muito bem ser António
Costa dizer que sim a tudo e seguir em frente.
De
resto, quando o PSD mente despudoradamente sobre tudo - a última
mentira colossal foi sobre a reposição da sobretaxa, afinal não
haverá nenhuma - Cavaco não se inquietou; quando PSD/CDS não
respeitaram a Constituição, o garante da Constituição nem
suspirou; quando a coligação tremeu irrevogavelmente não se ouviu
um único ai do Presidente. Nem tão-pouco fez quaisquer exigências ao PSD/CDS quando decidiu indigitar Passos Coelho, mesmo em minoria no Parlamento. Em contrapartida, Cavaco estrebucha só
de olhar para a esquerda.
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