Não havendo sinais claros de grandes melhorias relativamente ao estado do país, a relativa popularidade do actual Governo é, em última análise, surpreendente. Esta semana a notícia negativa prende-se com os números do emprego: segundo uma análise do Eurostat, Portugal é o terceiro país com maior taxa de desemprego na União Europeia, e que apresenta piores indicadores na zona euro. Aliás, o cenário é tão negativo que Portugal contraria a tendência europeia de uma redução da taxa de desemprego – em Portugal não para de subir.
Este indicador negativo só por si merece uma maior reflexão sobre a actuação do Governo. Infelizmente, a questão do emprego é só mais um problema que o Governo não consegue atenuar e, para além disso, não consegue transmitir uma mensagem de esperança no futuro mais próximo.
De facto, é difícil vislumbrar quaisquer sucessos efectivos do Executivo de José Sócrates, exceptuando a redução do défice, que é uma boa notícia, mas que está longe de acalmar as piores expectativas que os portugueses têm sobre o futuro.
Refira-se que o Governo tem falhado nas reformas essenciais para o desenvolvimento do país, mas o seu verdadeiro calcanhar de Aquiles prende-se com a forma como Governo comunica com o país. Com efeito, já muito se escreveu sobre o estilo arrogante e irascível deste Executivo. O estilo não é, todavia, o que mais contribui para o negativismo que assola o país. Sendo certo que a realidade dá o maior contributo para a disseminação desse negativismo, a verdade é que a incapacidade que o Governo revela na comunicação com os portugueses não dá qualquer hipótese para um revigorar de optimismos.
Ora, tudo se torna mais curioso quando se verifica o enorme falhanço na comunicação do Governo com os cidadãos e, paradoxalmente, verifica-se que o Governo tem perdido pouco em intenções de voto. A máquina de propaganda ao serviço do Executivo poderá ser em parte determinante, mas é a inexistência de alternativas que justifica a relativa popularidade do Governo. Sublinhe-se a tibieza dos partidos da oposição e acrescente-se a isto a imagem de um Governo diligente e determinado e o resultado é óbvio: entre a fraqueza de uns e a aparente força dos outros, escolhe-se a aparente força. Dito isto, o que o Governo perde em comunicação e substância, ganha em imagem e aparência.
Resta apenas saber se o retrocesso na vida da esmagadora maioria dos portugueses, em questões relativas ao emprego, à precariedade e à perda de poder de compra, não serão capitais para o futuro deste Governo. Noutras circunstâncias seria de se esperar que um Governo inábil na comunicação e inepto na governação não tivesse um futuro auspicioso; toda esta teoria se desmorona quando a imagem contribui para outras percepções.
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