Na greve, à semelhança de outros acontecimentos da vida, não pode caber tudo e mais alguma coisa, designadamente o recurso à greve para cumprir agendas politicas distantes, muito distantes, dos trabalhadores ou para alimentar egos de dirigentes, alguns deles que nem sequer são dirigentes dos sindicatos.
Ora aquilo que a Ordem dos Enfermeiros tem vindo a fazer enfraquece todo o conceito de greve, não só pelo carácter cirúrgico da mesma, ou pelas exigências impossíveis de cumprir ou até por se tratar de uma guerra pessoal da actual bastonária, mas sobretudo porque se trata de uma greve desumana.
Recorde-se que o direito dos trabalhadores, no caso em apreço o direito à greve, inscreve-se numa matriz humanista que nada tem a ver com este desprezo manifestado por alguns em relação a esses mesmos princípios humanistas. Dito por outras palavras, quem se dispõe a passar por cima de tudo e de todos, colocando em causa a própria vida das pessoas, não pode estar à frente do que quer que seja, sobretudo em democracia. Dirigentes sindicais e outros desprovidos do mínimo de humanismo contribuem também para a divisão, até mesmo entre classes profissionais, como se começa a perceber no seio de médicos e enfermeiros.
Em suma, é todo o conceito de greve que carece também do mínimo de compreensão por parte da sociedade que está a ser posto em causa com estas greves. De resto, a greve não pode ser vista como uma vaca sagrada sobretudo quando a responsabilidade já atingiu o grau zero.
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