A
TVI apresentou uma reportagem sobre uma importante instituição de
solidariedade social - a Raríssimas - o que resultou no afastamento
da sua Presidente e na queda de um secretário de Estado. A
reportagem em si revela um panorama desolador do ponto de vista moral
e é importante no âmbito do próprio jornalismo de investigação,
particularmente pobre em Portugal.
No
entanto, a jornalista Ana Leal preferiu percorrer o caminho
inquisitorial, designadamente na entrevista que fez ao secretário de
Estado da Saúde, Manuel Delgado, envolvido no caso. Ao invés de
procurar esclarecimentos, a jornalista optou por se transformar em
inquisidora, socorrendo-se exageradamente de pretensas provas que se
traduzem no "diz que disse", fazendo insinuações
maliciosas, tudo num tom inquisitorial. Ana Leal transformou-se na
protagonista, cujo papel é o pior papel que um jornalista pode
desempenhar: o de inquisidor.
Não
se pretende com esta crítica ilibar o secretário de Estado de
responsabilidades, isto porque desde logo, Manuel Delgado disse tudo
o que havia a dizer sobre os seus princípios morais ou ausência
deles. Ainda assim, nada disso justifica o tom inquisitorial, que
redundou amiúde em humilhação, sobretudo quando se faz esta ou
aquela insinuação sobre a vida privada do sujeito da entrevista.
De
resto, essa postura, embora apreciada por alguns, enfraquece a
própria credibilidade da reportagem, tornando-a pouco mais do que
vulgar. Paralelamente, essa dita postura passa também a ideia de que
existem alvos a abater e que os mesmos pertencem ao Governo - mesmo
que não seja essa a ideia, é essa a imagem que fica, de modo mais
ou menos indelével, consoante os gostos.
É
uma evidência, mas aparentemente ainda é necessário reforçar a
ideia de que o jornalista não deve ser, em caso algum, o
protagonista da notícia ou até da reportagem, seja no papel de
inquisidor, seja em que papel for.
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