Há quem tenha invocado a chegada antecipada da “silly season” para justificar os últimos disparates do Governo. Contudo, não será o caso, na verdade, esses tais disparates inserem-se num contexto – o Governo tem uma forma muito peculiar de governar. As intervenções do ministro das Obras Públicas ou do ministro da Economia não são obra do acaso, nem tão-pouco a questão do professor suspenso da DREN, ou a tentativa de controlar grevistas, ou mesmo o novo estatuto do jornalista são acontecimentos normais neste país de brandos costumes. O Governo, com o objectivo de aplicar as suas políticas, direccionou esforços em dois sentidos: Por um lado, no sentido do enriquecimento da imagem, por outro, no sentido de tudo controlar.
No primeiro plano, ou seja no plano da imagem, tudo é estudado até ao mais ínfimo pormenor, desde o anúncio de uma medida pouco popular veiculado pela comunicação social apenas para testar a aceitação ou não da opinião pública, até ao culto da saúde através de imagens de um primeiro-ministro desportista. A imagem é, para este governo, porventura um dos elementos mais importantes para o exercício da governação. Ainda que os políticos sejam obrigados a darem importância à imagem – a constante exposição pública não lhes permite fazer o contrário –, quando se resvala para o exacerbamento corre-se o risco de tornar a governação artificial, rica em aparências e pobre em substância.
Contudo, mais grave do que a importância da imagem, mesmo que seja desmedida, é a questão do controlo. Quando quem está no poder sucumbe à tentação de querer controlar tudo e todos. Não é por acaso que quando surge uma situação não prevista – como foi o caso da polémica em torno da licenciatura do primeiro-ministro – as reacções não são as melhores. Efectivamente, o actual Executivo adoptou práticas que deixam já pressagiar a tentativa por parte do Governo de controlar tudo, e começa-se a viver num clima de inquietação respirando um ar rarefeito imposto por uma espécie de mordaça invisível. O caso do professor da DREN envolto pelos silêncios comprometedores do costume; a questão das greves; a criação de um superpolícia; o estatuto do jornalista e a nova lei da televisão são sintomáticos de um apetite voraz pelo controlo. Deste modo, não é de estranhar que este seja um Governo incapaz de estabelecer um diálogo com os portugueses. O diálogo não faz parte da forma de governar do actual Executivo.
Curiosamente, o Governo, que reclama a imagem de modernista e progressista utiliza, na prática, técnicas anacrónicas para exercer a sua governação. Não obstante o sucesso do Governo em matéria fiscal e de finanças – que deve ser reconhecido e enaltecido –, a existência de alguns constrangimentos (para utilizar um eufemismo) dão a ideia de um país encolhido e silencioso.
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