Existe um vasto conjunto de problemas que inviabiliza o desenvolvimento do país, e na verdade muitos desses problemas são perpetuados por uma mentalidade colectiva (havendo naturalmente excepções) que se mantém agarrada a uma visão egoísta e anacrónica do mundo. Não é por acaso que a corrupção, o caciquismo, os favorecimentos, o jogo de influências e uma total e inexorável superficialidade são, em larga medida, a substância do nosso país. Relativamente à questão do emprego, o Estado português tem sido o grande empregador, os investimentos foram e são genericamente incipientes e a cultura do Estado omnipresente perpetuou essa solução. Todavia, os tempos mudaram e o Estado já não pode absorver uma parte substancial dos recursos humanos.
De facto, pode explicar-se a subida do desemprego com a deslocalização de inúmeras empresas, com efeito, a emergência de mercados mais apetecíveis levam muitas empresas a abandonarem Portugal. É também crucial salientar que a qualificação dos recursos humanos e a baixa produtividade que coloca o nosso país, também nesta questão, na cauda da Europa são onerosos para a economia portuguesa. Além disso, se o Estado esgotou a sua capacidade de dar emprego e o investimento tarda em chegar, ou abandona o país, é uma inevitabilidade chegar-se aos números apresentados pelo INE. E mais, esses números dificilmente corresponderão à realidade, o número de desempregados é seguramente maior e não vai cessar de aumentar.
É sempre possível abordar esta questão do desemprego de forma genérica, mas quando olhamos de perto o problema, a situação ainda se torna mais dramática. O desemprego é um drama pessoal e familiar que tem consequências inquietantes, em particular quando atinge uma franja da população que tem mais de 40 anos. E para além das dificuldades económicas, existe todo um conjunto de dramas pessoais que são ignorados: o cerceamento da dignidade humana e a sensação indelével de inutilidade são consequências que não podem ser subestimadas. Este é um país inoperante que já não dá muitas oportunidades aos seus cidadãos. Por conseguinte, não é surpresa verificar um êxodo de muitos portugueses que procuram outras oportunidades no estrangeiro, sendo que muitos são qualificados.
O Governo não pode continuar a ignorar os sinais preocupantes de um país social em convulsão. Nem pode ignorar este inquietante flagelo social do desemprego. É preciso combatê-lo! Deve ser encetada uma discussão sobre esta problemática, devem ser equacionadas formas possíveis de se coarctar o recrudescimento deste flagelo. Tanto mais que se levantam vozes a favor, por exemplo, de uma descida de impostos, podendo assim estimular-se o investimento. A formação dos recursos humanos e a questão da produtividade devem estar na ordem do dia. Porém, o reverso do desemprego deve ser o emprego que não roube a dignidade humana, e não o emprego inexoravelmente precário.
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